sábado, 16 de junho de 2012

A PEDAGOGIA DO PARADOXO


Letramento – palavra bonita, não? 

Ultimamente é moda utilizá-la em propostas, discursos e conferências educacionais, e quem ainda não a adicionou em seu léxico pedagógico, é visto com maus olhos. Sua pronuncia soa como a solução de todos os problemas ligados à aquisição da leitura e da escrita, talvez até cure os mais variados tipos de dislexia dos educandos brasileiros, inclusive os de origem patológica.  

Como? Letrando-os de acordo com a visão dos Parâmetros Curriculares Nacionais, principalmente o de Língua Portuguesa destinado ao ensino de 1ª a 4ª séries. 

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – em tese é o que há de mais moderno no campo educacional brasileiro, na prática não passa de confusão metodológica. Para os mais esperançosos, talvez seja esse, o PCN de Língua Portuguesa, o “Redentor” que salvará a educação brasileira do analfabetismo.  

De que modo? Mergulhando os alunos nos mais diversificados gêneros textuais – eu rogo para que não os afogue nesse  tsunami  intelectual, já que a maioria nem domina as correspondências entre grafemas e fonemas que, segundo pesquisas científicas internacionais e nacionais (como é o caso de estudos desenvolvidos pelo laboratório de neuropsicolinguística cognitiva da USP), deveriam ser ensinadas durante a alfabetização. 

Alfabetização – vocábulo que não se encontra mais em voga em tempos construtivistas, ou, dentro de uma visão mais otimista, palavra que sofrera certo tipo de mutação didático-pedagógica: a qual alterou seus cromossomos ABC para o método global. Sua definição, segundo os PCNs, está totalmente em discórdia com as visões de um simples dicionário ou das mais criteriosas pesquisas internacionais, e no que diz espeito à sua aplicação dentro da sala de aula, foge totalmente à metodologia adotada por países desenvolvidos: o método fônico. 

Método Fônico  – no Brasil, tais palavras são palavrões; em países como Finlândia, França, Dinamarca, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, nada mais é do que o que há de mais eficaz no processo de alfabetização, visto que sua ênfase está voltada ao ensino explícito das correspondências entre os grafemas e os fonemas e para o desenvolvimento da consciência fonêmica e fonológica. 

Como já foi dito anteriormente, no Brasil virou tendência falar-se em letramento e todos os seus mais variados conceitos que o engloba, porém, particularmente, oponho-me a tal ideia, a partir, entretanto, do momento em que o termo em questão transforma-se em esquiva construtivista que visa à negação de uma alfabetização organizada, sistemática e, por tanto, metodizada. 

É comum, nos cursos de pedagogia, nos depararmos com uma formação docente voltada para ensinar nossos futuros alunos a brincarem e dançarem enquanto estiverem em âmbito escolar. Porém, futuramente, quando o Ministério da Educação (MEC) aplicar suas provas de CONTEÚDOS TRADICIONAIS, será que os alunos poderão responder “nesse momento estávamos brincando de roda”? Ou, em outras palavras: faço-os dançarem e, na hora da prova, eles... 

A – (  ) respondem corretamente a questão. 
B – (  ) comemoram por saber a resposta certa. 
C – (x) dançam... 

Condena-se, alegando ensino mecanicista e tradicional, a aplicação, a transmissão de conteúdos e a memorização dos mesmos e até do abecedário, porém, paradoxalmente, treinam os alfabetizandos, a partir de uma abordagem ideovisual (método global), a memorizarem visualmente as palavras e, o que é pior, aplica-se exames empiristas. Ora, se é proibido codificar e decodificar palavras, como é que os construtivistas leem a Psicogênese da Língua Escrita?  

E se não se pode ensinar os educandos as habilidades necessárias para a codificação e decodificação, como 
eles aprenderão a ler e a escrever? 

Diante de tudo isso, não é difícil perceber a estratagema política arraigada nos documentos oficiais brasileiros que, por caráter natural de sua própria nomenclatura, deveriam orientar a educação nacional, e não ao contrário. Ficando, em suas entrelinhas, uma pergunta que só os ousados podem se dar ao luxo de questionar e responder: a quem tal disparidade pedagógica beneficia?  

Eu já questionei, agora passo a você, portanto, a tarefa de responder o enigma do MEC.

Edvaldo dos Reis Oliveira Filho 
edvaldofilho_oliveira@hotmail.com 
http://edvaldodosreis.blogspot.com/ 

Um comentário:

  1. Obrigado por ter divulgado o meu texto em seu blog, é raro, no Brasil, alguém escrever e divulgar artigos referentes à educação. Li o seu texto "Os Tipos de Analfabetismos", e confesso que gostei muito. Muito obrigado mesmo. Acho que no mês de agosto a Gazeta Valeparaibana publicará um artigo meu que se chama "O Tripé que Sustenta o Discurso Construtivista Brasileiro", se puder, confira-o.
    Ah, segue o link abaixo de um texto meu (Brazil com Z) que fora publicado na Folha Humanitária da Cruz Vermelha em Volta Redonda - RJ e também na Gazeta Valeparaibana, se puder, dê uma olhada.
    Atenciosamente, Edvaldo dos Reis.

    http://edvaldodosreis.blogspot.com.br/2012/03/brazil-com-z.html

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