sábado, 23 de março de 2013

Professores faltam ou faltam professores?

publicado em 22 de março de 2013 às 19:33

Maria Izabel Azevedo Noronha
A cada início de ano os meios de comunicação publicam reportagens e análises que identificam os principais problemas da rede pública estadual de São Paulo. Um dos pontos destacados é a falta, nas salas de aula, de professores de muitas disciplinas, como Física, Química, Biologia, mas também Sociologia, Filosofia e outras. Isto afeta diretamente o direito dos estudantes a uma educação de qualidade.

Múltiplos fatores interferem na qualidade do ensino, entre eles a profissionalização e as condições de trabalho dos professores; as condições de ensino-aprendizagem dos estudantes, a gestão escolar; a organização curricular, a formação inicial e continuada dos profissionais da educação; a infraestrutura e equipamentos das unidades escolares etc. A qualidade da educação pública também está relacionada a fatores como as políticas sociais implementadas pelo poder público, distribuição de renda, desigualdade social, ampliação das redes de ensino e atendimento ao direito à educação, entre outros.

É função primordial da escola formar cidadãos, por meio não apenas da transmissão sistemática do saber historicamente acumulado, patrimônio universal da humanidade, mas também da produção coletiva de novos conhecimentos. Neste sentido, a escola precisa estar articulada a um projeto educacional de conteúdo humanista, comprometido com a escolarização de todos com qualidade.

Inegavelmente, o professor é o elemento central do processo ensino-aprendizagem. Para além da estrutura e da infraestrutura, sem dúvida elementos importantes, devemos reconhecer que o ofício do professor é único e insubstituível, e como tal deve ser valorizado. É necessário, sobretudo, recuperar a escola como processo de humanização, no sentido do atendimento das necessidades do ser humano que nela trabalha e estuda. Sem isto, a escola pública não alcançará o êxito esperado pela sociedade.

O professor da rede estadual de ensino de São Paulo vem sendo submetido a condições que não favorecem o seu trabalho. A gestão escolar encontra-se extremamente centralizada, quer no que diz respeito à formulação das políticas educacionais – na qual os profissionais da educação não ouvidos – seja na formulação e execução do projeto político-pedagógico de cada unidade escolar.

Os artigos 13 e 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional asseguram aos professores “participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino”, a “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”, bem como a “participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.” Nem sempre, porém, isto ocorre de fato. Os professores são vistos apenas como executores das políticas definidas pelas autoridades e gestores educacionais e os conselhos de escola, na maior parte das vezes, cumprem um papel protocolar e homologatório.

A valorização dos professores se assenta no tripé “salário, carreira/jornada e formação, inicial e continuada”. Hoje a carreira do magistério paulista não corresponde às necessidades da escola pública. Ela não atrai os melhores profissionais e muitos professores deixam as escolas estaduais para se dedicarem a outras atividades, dentro ou fora de sua área de formação. Os salários são muito baixos. É sintomático que esteja decaindo, ano após ano, o número de estudantes matriculados e formados em licenciaturas.

A formação inicial, nas faculdades públicas e privadas, encontra-se divorciada da realidade das escolas, enquanto que o sistema de ensino não oferece formação continuada no local de trabalho. Muito menos cria condições para que isto, ao não aplicar a chamada “jornada do piso”, dedicando no mínimo 33% da carga horária semanal do professor para atividades realizadas fora da sala de aula. Ao mesmo tempo, porém, aplica aos professores sucessivas avaliações, inclusive para manter grande parte do contingente (hoje quase 50 mil profissionais) em situação de contratação temporária, sem direitos básicos. O Estado pretende selecionar professores, quando há falta destes profissionais. Um contra senso que leva o governo a convocar todos os professores disponíveis, mesmo aqueles que não realizaram a prova ou não obtiveram a nota exigida.

Este quadro, aliado à escalada de casos de violência dentro e no entorno das escolas, vem provocando o adoecimento dos professores, perceptível no cotidiano das escolas e confirmado por pesquisas realizadas pela APEOESP, em parceria com a UNIFESP e Grupo Géia; pela CNTE, em convênio com Universidade de Brasília; pela Fundacentro e outras instituições públicas e privadas.

Os números demonstram que a carreira docente já não atrai os jovens estudantes na proporção das necessidades do nosso país. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), em 2007 havia 2.500.554 profissionais atuando em sala de aula, mas em 2009 este número baixou para 1.977.978 professores.

O Censo do Ensino Superior, também realizado pelo INEP/MEC, registra que de 2005 a 2009 o número de estudantes universitários formados em cursos de formação de docentes para a Educação Básica caiu de 103 mil para 52 mil. O mesmo se repete no caso dos cursos de licenciatura, tendo havido queda no interesse pela carreira: naquele período o número de formados em licenciaturas caiu de 77 mil para 64 mil.

O Brasil precisa urgentemente rever esta situação. A rede estadual de ensino de São Paulo, a maior do país, deve dar o exemplo.

Maria Izabel Azevedo Noronha é presidenta da APEOESP, vice-presidenta da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e membro do Conselho Nacional de Educação.

TEXTO REPLICADO DESTE ENDEREÇO:

terça-feira, 12 de março de 2013

ESCOLA INTEGRAL X EDUCAÇÃO INTEGRAL


A Educação Pública apresenta, atualmente, deficiências e é comprovada em todos os mecanismos que auferem sua qualidade. Em muito se fala que a resolução dos problemas, da falta de qualidade da Educação Pública, seria resolvida se implantando Educação Integral em todas as escolas e quando ouço essas falas e vejo as propagandas, apresentações de seminários, as orientações pedagógicas e os poucos projetos de implantação dessas tão decantadas Escolas de Educação integral, eu sempre me lembro que alguns anos atrás se fazia uma propaganda massiva, com os seguintes dizeres: toda criança na escola.

No período desta campanha de “toda criança na escola”, eu sempre me perguntava: fazendo o quê? E por que sempre fazia essa pergunta? Neste período, se encheu as sala de aulas de crianças e só. Os resultados dessa campanha de se colocar as crianças na escola não se resolveu o problema da qualidade de ensino e não acabou com o analfabetismo. As salas de aulas ficaram repletas de crianças, mas a qualidade do ensino será a mesma e agora agravada pelo fato de se colocar um número de crianças maior que devia em sala de aulas, ou seja, a escola virou um depósito de crianças retiradas das ruas.

Em alguns municípios, já estão implantando o que seria (ou será!) a tão propalada Escola de Educação Integral. Os alunos ficam o dia todo na escola, com direito ao almoço e tudo mais. Observando-se algumas unidades escolares em funcionamento se fazem necessários alguns questionamentos:

Como é a estrutura dessas escolas onde os alunos ficam o dia todo (tempo integral)?

Se a estrutura administrativa, organizacional e física dessas escolas continuam as mesmas das chamadas escolas tradicional, os mesmos problemas existentes anteriormente irão permanecer!

A quantidade de alunos, por sala de aula, continua a mesma das escolas dita de ensino regular?

Se a quantidade de alunos por turmas forem as mesmas, os professores terão as mesmas dificuldades para controlar os alunos pelo excesso de quantidade. As poucas escolas que já implantaram esse novo modelo, certamente irão continuar com o mesmo número de alunos por turma. Tanto é que as unidades existentes são escolas que apenas foram adaptadas para esse novo modelo e visivelmente se percebe que não foram ampliados o número de salas de aulas.

Os professores tiveram capacitação e foram atualizados?


Se os professores continuarem desatualizados irão continuar lecionando com conteúdos e com as mesmas práticas anteriores. As poucas capacitações existentes são as mesmas que foram programadas para as escolas tradicionais e continuaram a serem aplicados para os atuais professores lotados nessas escolas com o novo regime.

Como foram preenchidos os horários extras que os alunos permanecem nestas escolas?

Se os horários extras para tornar as escolas com turno integral (manhã e tarde) forem preenchidos somente com atividades recreativas, os alunos apenas deixaram de se divertir em casa e na rua e passarão a se divertir nas escolas.
O mais interessante, é que se percebe que não terão atividades para uma Educação Intergral, olhando os mesmos itens da resposta anterior. Se não construíram mais salas de aulas, onde serão as novas atividades de cultura e lazer no novo modelo nestas novas escolas? Para se diminuir o número de alunos por turma e se colocar novas atividades, se faz necessárias contratações de mais professores e ampliação dos espaços, já existentes, nas escolas.

Essas escolas terão os equipamentos necessários (inclusive os da área de comunicação) ?

Os chamados “Laboratórios de Informática” foram implantados com os mesmos procedimentos dos laboratórios implantados anteriormente. Geralmente ficam obsoletos, são utilizados aleatoriamente (geralmente falta capacitação para o uso) e muitos ficam inutilizados por falta de manutenção. Esses laboratórios são mantidos, usados e organizados da mesma maneira das chamadas escolas tradicionais. As aulas nesses laboratórios tem de seguir um agendamento, devido a quantidade de computadores, serem desproporcionais a necessidade de uso por parte de alunos e professores.

Da maneira que estão implantando essas escolas, com a chamada Educação Integral, estão apenas criando meios para manter os alunos o dia inteiro nas escolas, da mesma maneira que anteriormente se fazia a propaganda de toda criança na escola. É como se o único interesse é retirar as crianças e adolescentes da rua e manterem ocupadas dentro dos muros destas escolas. O que está ocorrendo é que a implantação de Escola de Educação Integral, o termo que melhor utilizado seria “Escola de Tempo Integral”, são semelhantes ao divulgado no Projeto “Toda Criança na Escola”, e os resultados, provavelmente, serão iguais aos que se exigia na propaganda do MEC (Ministério da Educação e Cultura), com a diferença de que o tempo, que as crianças e adolescentes irão permanecer na escola, será mais bem mais elástico.

Não é necessário ser nenhum gênio para se perceber que essas novas unidades escolares, que estão sendo implantadas, não irá funcionar como Escola de Educação Integral e sim Escola em Tempo Integral. Para se colocar educação integral, visando a qualidade de ensino, se faz necessário ampliação das atuais escolas (salas de aulas e áreas para lazer e esporte) e também do quadro de pessoal (professores e pessoal administrativo). Somente no item redução de alunos por turmas, o número das salas de aulas teria de ser ampliadas praticamente em dobro e ainda teria de se criar novas salas (além das quadras esportivas) para colocação das novas atividades culturais e de lazer. Um bom exemplo seria as aulas, de músicas, que exigirão novas salas e novos professores para esta disciplina.

Antônio Carlos Vieira (SEED-SE)
Licenciatura Plena - Geografia

sábado, 9 de março de 2013

Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia

A escola vive uma profunda crise de legitimidade*. O mundo mudou, ficou complexo, novas demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas.

Foto: Celso Júnior/AE
Afinal, para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.?

A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações para uso em testes de avaliação?

Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico. Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas do currículo desses estudantes.

Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola.

À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História, Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o Português.

Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda impede o bom aprendizado do Português e da Matemática!

As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e leitura também em outras disciplinas?

Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento científico seria enfim útil para quê?

A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem matemática.

A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos.

Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a recriar o Português?

Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão diminuídos no currículo básico?

De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas.

As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que, nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial.

Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse movimento?


As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Valéria Belletati (Instituto Federal de São Paulo), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) são doutoras em Educação e Ligia Paula Couto (Universidade Estadual de Ponta Grossa) é doutoranda em Educação. Todas são pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE) – FEUSP.


TEXTO ORIGINAL NESTE ENDEREÇO:

sexta-feira, 1 de março de 2013

Como criar um ambiente favorável para despertar e ajudar seu filho a manter o gosto pela escrita

Para qualquer lugar que se olhe é possível perceber: vivemos em um mundo letrado. Nomes de lojas, indicações no trânsito, anúncios, destinos de ônibus, embalagens de produtos, na caixa do brinquedo, no videogame, as letras estão por toda a parte, dentro e fora de casa. E por isso, o contato das crianças com a escrita acontece muito antes de isso ser trabalhado formalmente na escola. 

São os pais, portanto, os primeiros a terem a oportunidade de apresentar esse maravilhoso universo a seus filhos e ajudar a tornar a escrita, mais do que algo prático, em um prazer. Não se trata, no entanto, de assumir a missão de ensinar o filho a escrever. Apenas criar (e manter) uma boa base para o trabalho que a escola fará depois. 

“Tão importante quanto um ambiente que seja favorável e estimule a curiosidade é o respeito ao ritmo da criança. Não é saudável a ansiedade em ver o filho escrevendo precocemente, pois isso gera uma pressão que poderá levar a um desinteresse mais para frente”, comenta Sonia Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga doutorada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

Mesmo após o período de alfabetização, há muito o que fazer em casa. “É preciso trazer a escrita para a rotina e envolver a criança em situações nas quais ela é utilizada”, defende Silmara Carina Munhoz, doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília). As duas especialistas apresentam dicas de como despertar e ajudar seu filho a manter o gosto pela escrita. 

Repensar a própria relação com a escrita 

Para que o estímulo seja efetivo ele deve vir de alguém que tenha real envolvimento com a escrita. “É preciso deixar de encarar a escrita como um bicho-papão, enfrentar seus próprios medos e limites. Caso contrário é como alguém que não gosta de brócolis querer convencer o filho de que brócolis é gostoso”, afirma Silmara Carina Munhoz, doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília). “Quem tem dificuldades ou receios pode aproveitar o momento para vencê-los junto com a criança e criar novos hábitos relacionados ao ato de escrever” 

Saber que tudo começa com a leitura 

Quem lê bastante escreve bem. Seguir as recomendações de como incentivar o gosto pela leitura é também estimular a escrita Criar um ambiente no qual regras são seguidas Para escrever é necessário seguir regras. “Não posso escolher qualquer letra para escrever a palavra casa. É preciso seguir a convenção estabelecida e isso é mais facilmente compreendido por quem está acostumado com regras”, diz Sonia Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga doutorada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

O ideal, então, é envolver a criança na dinâmica familiar, indicando que ela, assim com os demais membros da família, possui deveres. “Para os pequenos pode ser algo simples como colocar o travesseiro no armário. O importante é que haja algo e isso vá se ampliando conforme as condições de cada faixa etária”, explica. 

Usar a escrita rotineiramente 

Manter papel e lápis ao alcance de todos da casa e não perder a oportunidade de usá-los nunca. “Chegou tarde em casa e o filho já estava dormindo? Deixe um bilhete dizendo que você passou no quarto dele para dar um beijo de boa noite”, exemplifica Silmara Carina Munhoz, doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília). Outro bom momento é a hora de fazer 
a lista de compras do supermercado, que pode ser escrita de forma conjunta, até mesmo pelos menorzinhos (que podem “anotar” desenhando ou rabiscando que é preciso comprar sua bolacha favorita). 

Promover jogos e atividades com escrita 

Sua filha é fã de um ator ou grupo musical? Que tal, juntas, procurar fotos e informações e escrever um perfil dele? O menino torce para um time de futebol? Chame-o para fazer como você um cartaz do time, com as principais conquistas e jogadores famosos. Ou seja, a sugestão é aproveitar os assuntos de interesse para produções escritas. 
“Mas é importante que isso não se torne uma obrigação. E é para ser feito a quatro ou mais mãos, de forma prazerosa. Não pode ser uma tarefa que a mãe passa para o filho fazer sozinho e que irá cobrar depois”, ressalta Sonia Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga doutorada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

Valorizar a produção 

“As primeiras tentativas da criança serão rabiscos. Ela fará um garrancho e irá dizer que desenhou a mãe, o pai, a avó. É preciso reconhecer este grande passo que é entender que um símbolo pode representar algo e não desestimular dizendo que aquilo não é o desenho de uma pessoa”, diz Silmara Carina Munhoz, 

Isso vale para todos os momentos da escrita. Receber um bilhete e logo apontar que há erros como a falta de uma letra em uma palavra ou que, por exemplo, “casa” não é escrito com “z”, só irá reduzir a espontaneidade da criança. 

Ao contrário, é preciso adotar pequenos gestos, como guardar um desenho ou um bilhete da criança, ou acompanhar o que o filho escreve em blogs ou nas redes sociais e interessar-me pela poesia que ele criou. “Isto mostra que você valoriza esta forma de comunicação”, comenta a doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da UnB. É importante também que os pais também produzam e compartilhem suas criações. 

Preocupar-se com a caligrafia na medida certa 

Não é preciso exigir do seu filho excessos de capricho na letra. O importante é que seja possível entender o que ele quis escrever. Caso a letra prejudique o entendimento, vale chamar a atenção. “Um modo bastante prático é deixar um bilhete com um assunto de interesse de seu filho com trechos impossíveis de ler por causa da letra. Ele perceberá como isso atrapalha a comunicação”, sugere Sonia Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga doutorada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 
Uma saída pode ser os famosos cadernos de caligrafia. Mas o ideal é debater o assunto com o professor para buscar a melhor solução. 

Não abandonar o processo 

O envolvimento da família com a escrita não pode ser encerrado só porque já se percebe que a criança ou o jovem já tem total autonomia no escrever. Os bons hábitos e atividades devem ser mantidos e ainda ampliados, tornandose algo natural na rotina. 

“É um erro comum. Pais deixam de ler histórias assim que seus filhos aprendem a ler, privando a criança daquele momento que ela tanto gostava, o que só desestimula”, comenta doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília) 

Fonte: http://www.dihitt.com.br 

Edição: Filipe de Souza

Texto publicado: JORNAL GAZETA VALEPARAIBANA