segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Educação Especial no Brasil e no mundo - um Sobrevôo

O homem, na procura do atendimento às suas necessidades básicas, vai construindo sua existência, a qual se dá, sempre, a partir da interrelação entre si, mediado pelo mundo de idéias, num determinado momento e local. É nesta busca, como afirma Marx (1977), que se estabelecem as relações que são determinadas, independentemente da sua vontade. São as relações de produção correspondentes a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais.

As colocações desse autor, como salienta Bianchetti (sem data), alertam para o fato de que, embora saibamos que a sociedade civil foi e é a mola mestra da atuação com a Educação Especial, torna-se necessário que tentemos fazer uma análise não moralizadora da história da Educação Especial, com vilões e heróis e muito menos procurando entender o movimento da história em decorrência de voluntarismos e subjetivismos soltos. É claro que protagonistas e dificuldades se apresentam nesta trajetória. No entanto, na medida das nossas possibilidades, procuramos contextualizar as questões, ou seja, temos a clareza de que cada ação é reflexo, também, da conjuntura em que a pessoa ou grupo está inserido.

Nessa perspectiva, entederemos a forma de as sociedades primitivas tratarem os Pnee, tendo em vista que o atendimento às necessidades na dependência da natureza, como a caça, pesca, abrigos etc., uma das características desses povos, era o nomadismo. É natural, utilizando a lente deles, que o fato de alguém portar algum tipo de deficiência, seja ela congênita ou adquirida, dificultava sua locomoção. Por exemplo, colaborar com o grupo na luta pela sobrevivência fazia dele um estorvo. Consequentemente, eram abandonados sem que com isso lhes pesasse o sentimento de culpa. Até nos dias atuais, há o matricídio de crianças deficientes em várias culturas, inclusive no Brasil, entre várias tribos. E por mais grotesco que possa nos parecer, quando nascem gêmeos, um é sacrificado, independentemente de ter ou não alguma anomalia. Não há uma busca pelas causas. Há apenas um tipo de seleção; os mais fortes sobrevivem. E este é um aspecto que se repercute nas mais diversas situações de sobrevivência também do homem dos nossos tempos, diferenciando-se apenas na forma em que se apresenta, sempre de acordo com os valores de cada sociedade, de cada pessoa, de cada época.

É com o advento do trabalho escravo, passando este a trabalhar para sustentar os seus senhores, que a situação começa a mudar. Surgem a todo o vapor os corpos teóricos, os paradigmas, modelos que vão atravessar os séculos. 

No decorrer da caminhada histórica, temos percebido que as sociedades têm-se desenvolvido de forma diferenciada. Naturalmente, em consequência, os valores culturais e as relações que a permeiam são distintos. As que obtiveram um um desenvolvimento tecnológico correspondente às exigências do momento apresentam-se em destaque; as que por algum motivo não conseguiram são percebidas como deficientes, de modo particular, no que se refere à questão educacional, ao ter como parâmetro as sociedades tecnologicamente mais desenvolvidas. Segundo a História, à medida que uma sociedade é menos desenvolvida, menores são os investimentos sociais para a educação.

Em decorrência desse e de vários outros fatores, o direito à educação e as vias para concretizá-lo, embora, às vezes, pareçam ser diferentes, ainda têm sido considerados subalternos pelo poder constituído e pela sociedade, o que se torna gritante no que se refere ao deficiente, cuja classificação como tal corresponde a diferentes critérios.

Segundo Fonseca (1987), a distinção se dá a partir do amadurecimento humano e cultural de cada povo, o qual, de forma "discreta", vai afastando, excluindo da comunidade aqueles que podem, de alguma forma, perturbar o andamento regular das suas atividades, a idealizada ordem social, chamando atenção para o fato de que através dos tempos nas diversas concepções, desde a seleção natural para além da seleção biológica dos espartanos, os quais eliminavam as crianças mal formadas ou deficientes, as crenças sempre foram determinantes. Como nos afirma Lucído Bianchetti. (s.d.),

[...] Se, ao nascer, a criança apresentasse alguma deficiência, era eliminada. Praticava-se uma eugenia radical, na fonte. A eliminação se dava porque a criança se encaixava no 'leito precusto' dos espartanos, passando pelo conformismo piedoso do cristianismo, onde o paradigma ateniense por ter [...] a preferência pela agitada vida da polis, a retórica, a boa argumentação, a filosofia, a contemplação, vão fazer com que, principalmente através da obra de Platão, se abra um interstício, uma fresta, uma fenda entre o corpo e a mente, através da qual vai soprar um vento frio pelo resto da história do mundo ocidental cristão. A divisão, no nível macro, da sociedade ateniense, entre os livres e os escravos, vai ser o protótipo para a divisão no nível micro: a mente (os livres) cabe a parte digna, superior, encarregada de mandar, governar, o corpo (o escravo) degradado, conspirador, empecilho da mente, cabe a missão de executar as tarefas degradadas e degradantes. 
Como afirmam os estudiosos, vai ser assumido, cristianizado e levado ao paroxismo pelo judaísmo-cristão, haja vista que os gregos circunscreveram-se ao campo cristão da filosofia, enquanto que na Idade Média esse modelo é assumido no âmbito da teologia, trazendo grandes repercussões, a partir até da terminologia. Deixa de existir a dicotomia corpo/mente e surge corpo/alma. O portador de alguma anomalia deixa de ser morto ao nascer, embora o poder da Igreja Católica na Idade Média (séculos V e XV) tenha mudado ligeiramente o panorama, e até a segregação e marginalização operada pelos exorcistas e conjuradores da Idade Média, a deficiência andou sempre ligada a crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas. Isto porque mesmo se, como já dissemos, a Idade Média, ao avançar, vai mudando as concepções anteriores, a história ainda está imbuída de outros conceitos que atrelavam a ideia de deficiência com o pecado, eram as representações daquele momento. Em tempos mais distantes, por exemplo, dos vários milagres de cura etc. feitos por Jesus, quase um terço está relacionado à cura dos surdos, mudos, cegos, gagos, paraplégicos e outros a possessões. 

E por interpretações as mais diversas possíveis, essas concepções nos levam a compreender os horrores da segregação e da estigmatização, principalmente de milhares de pessoas que foram eliminadas através da fogueira de inquisição. Processo que almejamos seja entendido enquanto fenômeno histórico e geograficamente localizado, como nos advertem Lucídio Bianchetti e outros autores. Se assim não o fizermos, estaremos nos cedendo a julgamentos morais e moralizadores, os quais, ao nosso entender, não passam de um estreitamento da visão intelectual. 

Enfim, nos séculos XVI e XVII, a mitologia, o espiritismo e a bruxaria dominaram a visão da deficiência, de onde surgiram julgamentos morais, perseguições, encerramentos etc; em suma, meios que demonstravam claramente os valores da ordem social e de controle social da época. 

À medida que vai aumentando o predomínio pela produção voltada para o mercado, a possibilidade de acumular e de não viver apenas pela subsistência, o avanço da ciência e tecnologia etc., garantem de forma gradativa o domínio do homem sobre a natureza, dando este, em passos firmes, condições para sair do reino das necessidades para o reino da liberdade. 

À proporção que o homem vai superando seus limites, buscando novos mercados, as navegações etc vão surgindo paralelamente as justificativas para a hegemonia burguesa. E no lugar do teocentrismo vai se instalando o antropocentrismo. 

Em seguida, vem a revolução Francesa e os seus cinco pilares do liberalismo: individualismo, liberdade, propriedade, democracia e igualdade. Esta última deve ser ressaltada porque é ela que traz as repercussões mais interessantes ao analisarmos a Educação Especial neste momento. 

Com a produção em série, o deficiente passa a ser utilizado nos trabalhos repetitivos, onde, por determinada deficiência, ele tinha mais eficiência que os ditos normais; o surdo em lugares com barulho insuportáveis etc., assegurando um resultado mais eficiente e menos dispendioso para os industriais, os quais entendiam que, pelo fato de a pessoa deixar de ter um órgão, sentidos, membros etc., não era digna de receber um salário correspondente as atividades, embora os resultados demonstrados por ele fossem melhores do que se executados por outros. Ou seja, o princípio de igualdade cai por terra, não passando de um formalismo. 

É só a partir do século XVIII que se começa a educar os deficientes, procurando torná-los preparados para exercerem algumas atividades. 

No entanto, no Brasil, as idéias que pudessem vir sustentar essas preocupações só aparecem na segunda metade do século XIX. 

Por volta de 1870, o Brasil é invadido por algumas teorias como o Positivismo, o Evolucionismo, o Darwinismo, que, segundo Schwarcz (1997), penetram o nosso cenário de forma simultânea, trazendo consigo as doutrinas raciais que imperaram nesse século. Estas doutrinas tratavam da diferença, desigualdade, incapacidade ou outras denominações que possam ser introduzidas neste contexto, haja vista as denominações sobre a deficiência terem mudado, no decorrer do tempo, para atender às expectativas sociais de cada época. Mas, segundo nossa análise, muito pouco elas significam em benefício do indivíduo. Essas teorias foram de grande importância e mobilizaram vários teóricos dos séculos XIX e XX, e as demais concepções que emergiram após tais formas raciais procuraram difundir idéias a partir de teorias científicas validadas na época que, sempre por trás de outros interesses, afirmavam que pela raça ou pela forma craniana de um indivíduo poderia se saber se ele era mais capaz ou menos capaz que outro. 

Nesse sentido é importante registrar que um pensador sergipano se colocou muito atento em seu tempo, questionando essas opiniões. Manuel Bonfim, já no início do século XX, chamava-nos a atenção em sua obra “A América Latina” para os rótulos que as sociedades vêm atribuindo àqueles que de alguma forma podem ser explorados, marginalizados. No que se refere à capacidade ou não de um indivíduo ou grupo, esse autor foi radical em suas convicções. Outro aspecto fundamental e de relevância desse sergipano é que ele esteve diferentemente de alguns dos seus contemporâneos no tocante à capacidade de perceber as questões fundamentais que se deram à sua volta e de captar com veemência as evidências da história. 

São muitas as contribuições desse autor e extraordinária a sua capacidade de indignação e esperança, vendo na educação a “tábua da salvação” daquele momento, o caminho para solucionar os problemas do Brasil. 

Já no início do século XX, ele discordava de alguns dos seus contemporâneos no que tange, por exemplo, ao pressuposto de que o branqueamento era o meio de melhorar a capacidade cultural do nosso povo. Percebe-se que sua visão era muito avançada; tinha a compreensão de que o parasitismo social, utilizando seus termos, não ocasionava modificações orgânicas como o parasitismo biológico. 

Era ingênuo acreditar que fossem somente as influências hereditárias recebidas de um determinado povo que influenciassem sobre maneira no caráter de uma determinada população. Durante um longo período, o negro e o índio foram vistos como seres incapazes, mas para Bomfim, também a passividade e ignorância desses povos eram provenientes das condições sociais à qual pertenciam. Ele dizia: 

(...) pensem nas míseras condições desses desgraçados, que jovens, ainda ignorantes, de inteligência embrionária, são arrancados do seu meio natural e transportados a granel, nos porões infectos, transportados entre ferros e açoites, a um outro mundo, à escravidão desumana e implacável (...) se, hoje, depois de trezentos anos de cativeiro (do cativeiro que aqui existia!), estes homens não são verdadeiros monstros sociais e intelectuais é porque possuíam virtudes notáveis (BOMFIM, 1993, p. 238). 

Para o autor, a questão da capacidade não estava presa exclusivamente às raças; percebe os defeitos de cada povo como provenientes da falta de educação social. Acreditava que todo homem, fosse ele de qualquer raça, ao receber ensinamentos para o trabalho que denotassem realizações maiores a serem adquiridas por meio de si mesmo, em seu próprio benefício ao trabalho para si, ele 

(...) aceitará, crescerá e produzirá.
A inferioridade das raças é um instrumento de poder, um instrumento da exploração capitalista.
É de todos os tempos: que o homem possuindo a força e o poder, não pense em outra coisa senão em dele se servir para obrigar os outros a trabalhar, e para arrancar-lhes os frutos desse trabalho (BOMFIM, 1993, p. 243). 

É diante dessas e de outras convicções que esse autor aponta a educação, a instrução, como forma de superar os instintos, os estigmas, e do indivíduo, seja ele branco ou negro, índio ou mulato, europeu ou latino-americano, crescer, produzir, desenvolver-se nos vários aspectos que formam o homem. Ou seja, para Bomfim, a educação era mediadora do processo de amadurecimento do indivíduo. 

Por esses relatos vemos que, se de uma forma geral o cidadão tem sido ao longo do tempo marginalizado por conta de questões regionais, raça, cultura, tendo suas funções biológicas de acordo com o estabelecido como normal, imaginemos como têm sido tratados, ao longo dessa mesma história, aqueles que por motivos os mais diferenciados possíveis, têm algum comprometimento físico, sensorial e principalmente intelectual. 

Cada época produz suas patologias. Como sabemos, houve a peste e a cólera e, mais próximas de nós, a tuberculose e a sífilis. Todavia, o impacto do desenvolvimento da ciência nas doenças e nas neuroses continua. Se os antibióticos deram conta dessas doenças; se foram descobertas vacinas que extinguiram muitas epidemias, outras doenças, porém, têm aparecido, fazendo, se é que podemos ousar a dizer, fracassar o saber médico, tal como a AIDS, que ainda nos lembra os limites da medicina e o triunfo derradeiro da misteriosa morte, embora a sífilis, entre outras doenças, tenha sido por muito tempo um flagelo maior que a AIDS. 

Por outro lado, a medicina que não pára de nos surpreender; que nos leva a crer que possui um saber quase total sobre o corpo; que a matéria viva tem externado seus segredos; que o corpo ao ser decifrado tornou-se transparente, sem mistérios, e como diz Cordié (1996), que com essa leitura médica todo distúrbio não detectado pelos meios habituais de pesquisa, sejam estes biológicos, radiológicos ou outros,torna-se suspeito. Se não se vê nada, é porque não existe nada: nem doença, nem doente. Ou seja, quando o médico não consegue perceber o que está se passando com o paciente, diz que este não tem nada, o que subtende que sua queixa seja simplesmente imaginária, histérica, algo aparentemente simulado. 

O saber médico, cada vez mais complexo e tecnicizado, tem procurado progredir. Surgiu uma nova patologia que se situa mais na vertente somática. Atualmente, muitos pacientes têm danos somáticos graves com lesões de órgãos, doenças passíveis, contudo, de acordo com a nossa compreensão, de cura. No bojo dessas questões emergentes, tem tomado o peso de patologia, segundo Cordié (1996), surgiu com a instauração da escolaridade obrigatória no fim do século XIX e tomou um lugar considerável na preocupação dos estudiosos, em conseqüência de uma mudança radical da sociedade. 

No contexto atual, podemos dizer que o fracasso escolar se tornou sinônimo de fracasso de vida. Sendo assim, o fracasso, opondo-se a sucesso, implica um julgamento de valor: ser capaz ou incapacitado. Voltamos assim as inquietações de Bomfim e quase que o ouvimos dizer aqui que o valor em si é função de um ideal, eu um indivíduo persegue no decorrer da vida e amadurece nessa busca. Que os ideais são em sua essência, aqueles de seu meio cultural e de sua família e ela mesma, marcada pelos valores da sociedade à qual pertencem. 

Entendemos que esses ideais variam de uma cultura para outra; ou seja, o que é valorizado em um certo meio pode ser depreciado em outro, o que leva um indivíduo ou grupo social a marginalizar outro. 

A marginalização dos PNEE, caracterizada na quase ausência de atendimento de qualidade na sociedade, é uma ação que reflete uma atitude de descrença nas possibilidades de mudança da situação da pessoa; um consenso social pessimista, fundamentado essencialmente na idéia de que a condição de incapacidade é uma condição imutável e leva a completa omissão da sociedade em relação à organização de serviços para atender às necessidades específicas dessa população. 

Nesse sentido, são de extrema relevância os trabalhos educacionais de teóricos como: João Amós Comênio que, no seu “Tratado da Arte Universal de Ensinar a Todos”, faz uma abordagem da questão da Filosofia, no campo da intencionalidade, já que metodologicamente esta questão só vai ser melhor resolvida quatro séculos após, através dos profundos estudos de como se aprende. 

Pestalozzi, que dedicou sua vida ao cuidado e educação das crianças pobres; Froebel, ao cuidado das crianças, criador dos Jardins de Infância; Fénelon, que vai se preocupar com a educação das moças, assunto que até o século XIX não havia trazido à tona nenhuma atenção; no século XX, temos Piaget, Vygotsky, ambos voltados para questões relacionadas a como se dá a aprendizagem e ao desenvolvimento de teorias; Freinet, preocupado com as crianças da zona rural e com o sindicalismo; Paulo Freire, dando uma atenção inestimável à alfabetização de adultos etc. 

Entretanto, é imersa nestas grandes preocupações com as especificidades que deram suporte à pedagogia da “existência”, que emerge a preocupação com com os PNEE, que ficavam segregados, excluídos. Fatalmente, a preocupação com a especificidade desses percorreu uma estrada cheia de obstáculos. 

Retornando à nossa visão panorâmica na história mais amplamente, percebemos que somente no século XX é que se iniciam nos vários países, de forma mais acentuada, os estudos científicos das deficiências, os quais têm-se direcionado, de modo particular, à deficiência mental, destacando-se E. Seguim, criador da teoria psicogenética. Sua pretensão era chegar a um método não só aplicável aos idiotas, como se falava na época, mas a qualquer deficiência mental, manifestada em três vias que se completam, apontando grandes benefícios aos deficientes, como a possibilidade e a necessidade de prevenção; a educabilidade do deficiente e a integração do deficiente como meio e fim. 

É a partir dessa e de outras contribuições que a antecederam ou sucederam, de modo particular, pelo sentimento de insegurança, desejo de dividir ou repassar o fardo ou pelo amor da família etc., que surgem as possibilidades de lutar pela integração do deficiente na escola e na sociedade.

A Professora Drª Rita de Cássia Santos Souza é estudiosa e pesquisadora na área da Educação Especial e Inclusiva  e tem dado relevante contribuição social neta área, com produções  impressas  e digitais para maior acessibilidade

Texto replicado deste endereço:

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Anel digital lê livros para deficientes visuais

O anel foi desenvolvido por pesquisadores do Media Lab do MIT, além da ler em voz alta, ele é capaz de traduzir textos

Imagem do FingerReader em funcionamento
São Paulo – Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT, criaram um anel que lê textos para deficientes visuais. O dispositivo deve ser de grande valia na ausência de material escrito em braile.

Chamado de FingerReader (Dedo Leitor), o anel deve ser usado de maneira que sua câmera fique virada para o papel. Ele percebe a movimentação do dedo e escaneia todo o espaço por onde o dedo se mover. A análise é feita em tempo real. Assim que o anel lê uma palavra, ela é anunciada em voz alta.

O aparelho ainda é um protótipo. A voz que faz a leitura não é muito fluida e o FingerReader em si é um pouco grande demais. Mas para uma primeira versão, ele está em um nível bem avançado. O dispositivo, muito inovador, entra na categoria de computação vestível.

O anel ainda auxilia o usuário com vibrações. Quando percebe que o final de uma linha está se aproximando ou quando o usuários começa a sair da linha, ele emite pequenas vibrações para avisar.

Segundo os pesquisadores do Media Lab do MIT, ele também funciona para a realização de traduções de textos.

Veja o vídeo do FingerReader abaixo:



Texto original : Exame Abril    Em nova janela

Texto replicado: PROINESP

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

CPqD lança app que ‘fala’ o que está na tela do celular a deficientes visuais

Principal ferramenta do aplicativo CPqD Alcance é o aviso sonoro. Outra função é a leitura de texto e lembretes de voz para o despertador.
CPqD lança app Alcance que, por meio de avisos sonoros,
informa a  deficientes visuais o que é exibido na tela de
 smartphones. (Foto: Divulgação/Google) 
O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) lançou nesta terça-feira (3) o aplicativo CPqD Alcance, que facilita o uso de smartphones que rodam Android para pessoas que tenham algum tipo de deficiência visual.

Uma das ferramentas do app responsáveis por isso é o aviso sonoro para que os usuários saibam o que é exibido na tela dos aparelhos.

O app é voltado especificamente para celulares inteligentes que tenham telas sensíveis ao toque. O que ele faz é criar uma nova interface para facilitar a localização das funções em celulares como esse.

O CPqD Alcance divide a tela em seis áreas (atendimento de chamadas, configurações, envio de mensagens etc).

Quando o usuário pousa o dedo sobre o ícone, é informado por um aviso sonoro qual função selecionou. Para escolher um serviço, deve dar um duplo toque.

Outras funções do app são o despertador com lembrete de voz, sistema de localização facilitado e ajuda no deslocamento, além do tocador de música e do leitor de texto.

O aplicativo foi desenvolvido pelo Projeto VozMóvel, desenvolvido pelo CPqD e Centro de Prevenção à Cegueira (CPC), de Americana, no interior de São Paulo.

Para aperfeiçoar o app, deficientes visuais já testaram sua usabilidade. Segundo o CPqD, o aspecto mais importante trazido pelo app foi a autonomia em relação ao uso do smartphone, pois dispensam a ajuda de alguém.

Texto retirado na página do G1, neste endereço:
http://g1.globo.com/tecnologia/tem-um-aplicativo/noticia/2013/12/cpqd-lanca-app-que-fala-o-que-esta-na-tela-do-celular-deficientes-visuais.html


Texto replicado deste endereço: PROINESP

domingo, 14 de setembro de 2014

12 sinais de que você está criando seu filho para ser escravo

Você parou para observar o que está passando na televisão quando o seu filho a está assistindo? Ou já parou para refletir nos motivos que levaram um novo shopping a ser erguido perto da sua casa? Ou mesmo já se questionou sobre a real razão para a pré-escola dizer que está preparando o seu filho para o mercado de trabalho?

Não é novidade para ninguém que a organização da sociedade possui o formato de uma pirâmide onde os que estão na base sustentam aqueles que estão no topo. Enquanto no topo existem poucos lugares, na base existem muitos para serem ocupados, sendo natural que quem esteja em cima queira manter aqueles que estão em baixo onde estão para não perderem suas posições no topo.

Apesar de nascermos livres, durante a construção da nossa personalidade (da infância a fase adulta) vamos nos identificando progressivamente com essa lei e ficando cada vez mais “parados” conforme ela se torna a realidade do nosso modo de agir.

Não importa se nossa origem é uma família com muito ou pouco dinheiro. O que define se uma pessoa é escrava ou não é a maneira como ela lida com o mundo: se obedecendo a lei da escassez ou a lei da abundância.

Obedecendo a lei da escassez, nós temos medo e culpa. Medo do desconhecido (futuro, relações ou oportunidades) e culpa pelo passado (o que não foi feito, o que deu errado ou o que fizeram conosco). Agimos como vítimas e sempre estamos sofrendo por algo. Por isso precisamos atacar. Quem está em cima ataca quem está embaixo e quem está embaixo ataca quem está em cima.

Mas o que importa para o desenvolvimento pleno do ser humano e da humanidade não é que nossos filhos escalem a pirâmide social, se tornem pessoas ricas habitando o topo da pirâmide e mantenham as pessoas que estão embaixo afastadas das suas posições. O importante é que eles se libertem dessa pirâmide e das “regras naturais” contidas na sua estrutura.

Abaixo, fica o convite para reflexão sobre 12 sinais de que você está criando seu filho para ser escravo:


Você matriculou seu filho em uma escola que o prepara para o mercado de trabalho

Ou uma que vai do maternal ao vestibular. Não importa. Se o seu filho está matriculado em uma escola que o prepara para o mercado de trabalho, você está preparando o seu filho para o passado e não para o futuro, para o mundo que vai existir daqui a 20 anos quando ele sair da escola. Você está preparando seu filho para se encaixar no mundo e não para criar um mundo para ele.

Você leva seu filho no shopping para passear

Shopping não é para passear. Shopping é para comprar ou então se distrair para comprar ainda mais. O objetivo do shopping é vender mais e por isso é tão importante para seus proprietários agregar serviços como praças de alimentação e espaço para as crianças com brinquedos eletrônicos e pequenos parques dentro dos seus estabelecimentos. Quanto mais próximas dos shoppings as crianças estiverem, melhor retorno financeiro o shopping terá no longo prazo. O impacto deste mau hábito pode levar seu filho a sempre querer consumir para se manter feliz.

Você permite que ele tenha mais coisas que o necessário

Presentes são as distrações do presente. Com milhares de roupas, tênis e brinquedos seu filho começa a perceber que fica feliz sempre que recebe alguma coisa nova e molda a sua cultura para isso. Desta forma, quando ele ficar triste novamente e não enxergar nada de novo à sua volta, acreditará que está com esse mau humor porque não tem nada novo para se distrair. Desde cedo eduque seu filho a compreender que ele não depende de coisas para ser mais feliz. No dia que seu filho fracassar e não tiver coisa alguma, se sentirá ainda mais infeliz por não tê-las e levará ainda mais tempo para retomar seu rumo.

Você acredita que ajuda seu filho quando executa tarefas simples pra ele

Dar comida na boca, amarrar o sapato, abotoar a camisa, dar banho, entre outras tarefas simples são coisas que os pais estão fazendo por mais tempo pelos seus filhos. Quando eles crescerem e estiverem adultos o mundo cobrará deles independência e disposição para realizar tarefas fora de suas zonas de conforto se eles quiserem se libertar. Tendo sido criado em uma redoma seu filho terá que lutar ainda mais para conquistar as coisas que deseja.

Você ensina seu filho a valorizar as coisas pelas marcas que elas carregam

Não basta comprar um caderno, precisa ser um caderno de uma determinada marca ou com um determinado motivo daquele desenho animado ou daquele filme que ele tanto adora. Não seja tolo. Você está agindo justamente da forma que o dono da marca daquele filme quer que você aja. Que tal explicar para o seu filho que o caderno sem marca nenhuma tem a mesma utilidade que o caderno com marca e que ele pode ser até melhor em qualidade que o outro. Ensine-o a valorizar as coisas pelo real valor delas e não pela marca que a coisa carrega. O significado de sucesso não é medido pela capacidade de adquirir acessórios das marcas mais caras como se fossem badges da vida real.

Você não ensina seu filho a receber doações

Conheço pais que não admitem que seus filhos recebam uma peça de roupa ou um tênis de uma outra criança só porque aquilo que era recebido já tinha sido usado. Não existe coisa mais digna e natural do que aprender a receber. Isso, inclusive é até mais importante que aprender a dar porque para receber você precisa ser humilde e nobre. Ensine-o a receber doações e ele se tornará livre por acreditar que o mundo dá as coisas para ele ao invés de visualizar um mundo cheio de perigos e apuros onde todos só pensam em tirar-lhe as coisas.

Você faz da alimentação por frutas e legumes algo pontual

O natural para o ser humano é comer frutas, legumes e verduras, enquanto refrigerantes, doces e outras guloseimas não é natural. Estes últimos “alimentos” é que devem ser apresentados ao seu filho como um evento pontual. Não há problema comer doces, biscoitos e bolos uma vez ou outra se o hábito da criança for comer coisas saudáveis, mas fazer da alimentação saudável algo esporádico é transformar o próprio filho em colecionador de problemas de saúde no futuro.

Você o deixa ver televisão

Assista televisão com o seu filho durante uma hora e notará nas entrelinhas uma série de comerciais educando-o a permanecer escravo do sistema. Enquanto mulheres feministas brigam pelos seus direitos nas ruas, um comercial de um brinquedo infantil, treina meninas para o consumo vendendo uma caixa registradora que aceita cartão de crédito de brinquedo onde sua filha pode fazer compras à vontade na lojinha da amiga. Desligue a televisão e veja o seu filho libertar a imaginação com amigos imaginários, pistas de corrida feitas com caixas de papelão ou simplesmente cantando a esmo dentro de casa.

Você não educa seu filho com uma medicina preventiva

Medicina preventiva é alimentação somada ao conhecimento do próprio corpo. Além de receberem alimentos ruins para o corpo, os pais não incentivam seus filhos a conhecerem suas dores e seus próprios males, curando toda e qualquer perturbação com algum medicamento invasivo que inibe o sintoma, mas não acaba com o problema. O autoconhecimento começa pelo conhecimento do nosso próprio corpo.

Você incentiva que seu filho tenha ídolos

Ter ídolos nos escraviza tanto quanto ter algozes. Tendo ídolos, seu filho começa a competir com outras crianças para medir se aquilo que idolatra é melhor ou pior que aquilo que os outros idolatram, seja uma personalidade, um atleta, um time de futebol, um músico, etc. Ele coloca todas as suas expectativas naquela pessoa, saindo de si para querer se tornar o outro o que normalmente termina em uma grande frustração quando ele verifica que o outro possuía as mesmas idiossincrasias que ele.

Você ensina as suas crenças para ele

Religião, trabalho, riqueza, modo de vida, enfim, você deposita no seu filho toda a sorte de crenças e medos cultivadas em você tirando a capacidade dele mesmo refletir sobre o que serve e o que não serve para ele. Você não ensina filosofia para ele e não o faz questionar e observar que talvez você e ele estejam errados a respeito das suas certezas. Que existem outras religiões diferentes da sua no mundo, assim como outros tipos de trabalho, outras formas de gerar riqueza e também outras maneiras de viver. Esclareça para o seu filho que a forma como você vive e a maneira como você pensa é a sua maneira, mas não a mais correta. Não ate-o a amarras que o deixem presos em qualquer área da vida. Leve-o a sua religião, ensine-o sobre ela, mostre a forma como você trabalha e a sua maneira de gerar riqueza. Traduza tudo isso e o seu modo de vida como apenas mais um modo de se viver, mas fortaleça-o para que ele faça a sua própria busca, deixando claro que irá lhe abraçar no caminho de volta pra casa.

Você não coloca em prática o que ensina para ele

E o principal e mais violento sinal de que você está criando o seu filho para ser escravo acontece quando você demonstra para ele que não se esforça para se libertar colocando em prática aquilo que ensina para ele.
Você continua indo ao shopping para passear.
Você continua vendo televisão.
Você continua torcendo para o seu time do coração com fanatismo.
Você cultua marcas, nomes e famosos.
Você se coloca como vítima da vida.

Você pode ter errado em tudo, mas não pode se dar o direito de errar em não assumir os próprios erros para acertar. Temos que ensinar esta nobreza para os nossos filhos se quisermos que eles se libertem desta pirâmide social na qual a maior parte da sociedade está inserida para viver a sua própria vida da maneira que ele acredita ser a ideal.

Entendo que alguns sinais colocados aqui afetam estruturalmente as suas crenças, mas te convido a fazer um exame em cada uma delas para verificar porque elas realmente existem em você e como elas podem estar moldando a vida que você tem hoje. Se você está preso, liberte-se e leve seus filhos junto, pois se todos os pais fizerem isso, libertaremos o mundo.

Por Marcos Rezende

Fonte indicada: Insistimento

(Recomendo a visita ao artigo de origem para a observação dos mais de 500 comentários gerados pelo texto além, é claro, do conhecimento de outros artigos do autor)

Texto original: CONTI outra

segunda-feira, 28 de julho de 2014

DEFICIENTE OU CORRUPTO!!!

Um dos grandes problemas em relação aos direitos dos deficientes físicos é a falta de colocação dos instrumentos que facilitem a vida dos mesmos. Entre esses instrumentos podemos citar desde a construção de calçadas, rampas, sinalizações especiais, ônibus adaptados, etc.

Nos estacionamentos públicos ou privados de supermercados, farmácias, shopping, etc é obrigatório se reservar vagas para cadeirantes e idosos. Mas para que isso funcione é necessário educação e respeito por parte da população não deficiente e que eles não ocupem essas vagas. O problema é que a falta de educação e descumprimento da lei é muito comum no dia a dia.

Para todos os eventos esportivos, teatrais, apresentações de filmes (cinemas) e shows de todas as espécies é obrigatório, por lei, se reservar algumas vagas para cadeirantes e na Copa do Mundo no Brasil não poderia ser diferente. Mas a falta de respeito pelas leis e a chamada esperteza de alguns brasileiros, não deficientes, para se conseguir assistir aos jogos foi registrada e mostra que ainda estamos muito longe de sermos o que chamamos uma Sociedade Civilizada!

Abaixo, algumas fotos que mostram flagrantes da esperteza e descumprimento da lei por parte de alguns ditos cidadãos:
Nesta foto um dos cadeirantes se levanta e invade o campo!

O que deveria ser cadeirantes assistindo o jogo em pé!!!!

Outro cadeirante!!!!!
Texto original neste endereço:
http://proinesp-se.blogspot.com.br/2014/07/deficiente-ou-corrupto.html

quinta-feira, 17 de julho de 2014

OS ESTADOS UNIDOS E O "COMBO CONTROL"


O domínio do monitoramento, produção e distribuição de conteúdo nas
redes globais de comunicação e entretenimento.
(Jornal do Brasil) - Imaginemos, apenas por uma vez, que o empertigado Phileas Fogg, e seu criado Passepartout, do livro A Volta ao Mundo em 80 dias fizessem sua viagem agora, e não, como imaginou Júlio Verne, no segundo semestre de 1872.

Em cada cidade em que chegassem, ao adentrar o quarto de hotel, desfazer as malas e mexer no controle remoto, eles certamente se surpreenderiam, ao ver, na estranha tela retangular que chamamos de televisão, fosse qual fosse o país em que estivessem, sempre as mesmas cenas, repetidas, sem cessar, em inglês, ou dubladas e legendadas no idioma local. 

Surgida como alternativa à programação da televisão aberta, a tv por assinatura tornou-se, hoje, o retrato mais bem acabado de um mundo culturalmente unipolar, em que as crianças consomem os mesmos desenhos animados, as mulheres vêem os mesmos programas culinários, os homens assistem à mesma programação esportiva, todos riem das mesmas piadas e tem a cabeça feita e as preferências moldadas por documentários e telejornais estabelecidos dentro das mesmas premissas e abordagem política.

Esse processo de imbecilização progressiva já é tão natural, e dura há tantos anos, que, para as novas gerações, que assistem sempre a mesma coisa, com a única diferença de ser apresentada em seu próprio idioma, fica fácil esquecer que toda essa maçaroca, dos animes à “filosofia”, vem de uma mesma origem e obedece a uma mesma estratégia de controle e pasteurização.

O início foi o telégrafo. Depois, veio o rádio. Impossibilitados, pela tecnologia da época, de tomar seu controle globalmente, os Estados Unidos rapidamente viram no Cinematógrapho dos Irmãos Lumiére uma forma de projetar os mitos sobre o heroísmo e a superioridade dos norte-americanos para além de suas fronteiras.

Para isso, era preciso controlar não apenas a produção de conteúdo, a partir dos grandes estúdios, em Hollywood, mas, também, e principalmente, a distribuição, em um grande número de países. O rádio só resistiu ao cinema, como meio de comunicação e controle de massas, até o advento da televisão. No início, o conteúdo televisivo era local, por ser transmitido obrigatoriamente ao vivo. Depois, com o advento do videotape, ele foi rapidamente dominado pelo país que tinha o maior estoque de conteúdo próprio, os Estados Unidos.

Finalmente, com o passar dos anos, e o avanço da tecnologia, os Estados Unidos conseguiram, finalmente estabelecer o tripé por meio do qual estão estendendo sua influência sobre dezenas de países. 

Esse tripé, que poderíamos chamar deCombo Control, ou Combo de Controle, é o mesmo que é oferecido, atualmente, pelas operadoras de telecomunicações:

A internet - cuja rede foi estabelecida inicialmente por eles, e é amplamente dominada por suas empresas, como o Google, a Apple, a Microsoft - que serve para a disseminação de conteúdo, o monitoramento de opiniões e atividades contrárias aos Estados Unidos e para a espionagem e a chantagem do usuário até o nível mais pessoal.

O telefone celular, que hoje se confunde cada vez mais com o computador, e que serve não apenas para monitorar as ligações e seu conteúdo, mas também para estabelecer a localização física de eventuais adversários, até mesmo para sua captura ou assassinato.

E a TV a Cabo, que transformou-se em uma matriz centralizada para a padronização e distribuição, em escala global, de um conteúdo que é sempre o mesmo, para cada país, e os mais diferentes segmentos em que se divide o público televisivo.

Tudo isso é feito, por meio tanto dos grandes grupos de produção de conteúdo, como a Warner, a FOX e a CNN, como dos grandes grupos de distribuição de sinais, por meio de cabo ou satélites. 

Com a recente compra da Direct TV, controladora da SKY no Brasil, a AT&T,American Telephone and Telegraph Corporation, dos Estados Unidos, tornou-se líder na distribuição de tv a cabo no Brasil e na América Latina.

Na semana passada, a ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações, “comemorou” a chegada da tv a cabo, no Brasil, ao número de 18 milhões e setecentas mil residências.

Em um país sério, ela estaria, no Congresso e fora dele, estudando uma legislação que nos permitisse oferecer uma alternativa a esse imenso público, que extrapolasse o sempre imutável menu das dezenas de canais norte-americanos. 

Texto replicado de : Mauro Santayana

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Há quem ame o país só nas Copas. Fora delas, quer que tudo se exploda

Leonardo Sakamoto
07/07/2014 08:13


Um carro enfeitado com uma grande bandeira do Brasil avançava velozmente pelo acostamento para fugir do congestionamento na rodovia dos Imigrantes na manhã desta segunda.

Um casal, que saiu animado na tarde de ontem de um restaurante no Itaim, estacionou o carro – decorado de verde e amarelo – em uma vaga para pessoas com deficiência. O veículo não possuía nenhuma sinalização de pertencer a uma pessoa com deficiência.

No sábado, um outro possante – que parecia uma festa junina ambulante de tanta bandeirola verde e amarela – abriu a janela, arremessou uma latinha de cerveja vazia na direção de uma pessoa em situação de rua que dormia no canteiro central de uma avenida, em Pinheiros, e disparou, cantando pneus.

Os três causos foram em São Paulo, mas poderiam ter sido em qualquer lugar.

Estava me perguntando qual a profundidade desse rompante de “amor ao país'' fomentado pela Copa. Por conta de cenas como essas, tenho a certeza que é mais raso que uma colher de sopa.

Olha, não me entendam mal. Quem lê este espaço sabe que amo futebol, assisti praticamente a todos os jogos da Copa e estou torcendo horrores – pela seleção e pelo meu bolão, que ninguém é de ferro. Mas eu, que detesto patriotadas, odeio ainda mais pseudopatriotadas.



Até porque quem se sente pertencente a um lugar, entende que suas ações individuais não podem tornar a vida dos outros um inferno sob o risco de colocar a perder a qualidade de vida da própria coletividade. Do que adianta, portanto, encher o seu carro de bandeirinhas, para demonstrar seu amor ao país em tempos de Copa, se você é um idiota que acredita que o mundo existe para servi-lo?

Viver em sociedade passa mais por entrega e concessão do que por reafirmação de desejos e vontades pessoais a cada momento. É pensar: será que isso não vai atrapalhar os outros?

Depois os mesmos fuinhas ainda devem encher os pulmões e cantar: “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor''. O que prova que esses discursos nacionalistas empacotados e entregues nestes momentos são tão válidos quanto uma nota de três reais.

Agradeço a Alá o fato de não ter interiorizado o que disciplinas como Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira, restolhos utilizados pela ditadura, tentaram me dizer – apesar dos fantásticos professores que tentaram dar outro sentido ao malfadado currículo. Nunca entendi como algumas escolas se preocupam mais em ter alunos que saibam o hino à bandeira do que compreender Guimarães Rosa.

Quando pequeno, lembro-me de ir a apenas um desfile do Dia da Independência, na avenida Tiradentes, aqui em São Paulo. E, mesmo assim, não ter ficado o suficiente para entender o que aquele bando de gente agitando bandeirinhas estava fazendo por lá. Uma das maiores contribuições dos meus pais foi exatamente ter me poupado de toda essa papagaiada patriótica.

Sei que datas como a Copa servem para compartilhar (ou enfiar goela abaixo) elementos simbólicos que, teoricamente, ajudam a forjar ou fortalecer a noção de “nação''. Mostrando que somos iguais (sic) e filhos da mesma pátria – mesmo que a maioria seja tratada como bastardos renegados.

Por isso, me pergunto se passado este momento não poderíamos fazer uma pausa para reflexão sobre nós e como estendemos o direito à dignidade a todos que habitam este território.

Ao invés de nos enrolarmos em bandeiras e transformar automóveis em carros alegóricos, poderíamos nos juntar para discutir a razão de chamarmos indígenas de intrusos, sem-teto e sem-terra de criminosos, camponeses de entraves para o desenvolvimento e imigrantes bolivianos e haitianos de vagabundos. Ou reivindicar que o terrorismo de Estado praticado durante os anos de chumbo seja amplamente conhecido, contribuindo – dessa forma – para que ele não volte a acontecer como tem acontecido.

O melhor de tudo é que, todas as vezes que alguém levanta indagações sobre quem somos e a quem servimos ou conclama ao espírito crítico sobre o país, essa pessoa é acusada de não amar o país, no melhor estilo “Brasil: ame-o ou deixe-o'' dos tempos da Gloriosa.

Não amo meu país incondicionalmente. Mas gosto dele o suficiente para me dedicar a entendê-lo e ajudar a torná-lo um local minimante habitável para a grande maioria da população. Gente deixada de fora das grandes festas, entregues ao pão e circo de desfiles com tanques velhos e motos de guerra remendadas. Mas que, quando voltam para casa, encaram a realidade da falta, da ausência, da dificuldade e da fome.

Qual a melhor demonstração de amor por um país? Vestir-se de verde e amarelo e sair gritando Brasil na rua? Ou ter a pachorra de apontar o dedo na ferida quando necessário?

Ama a si mesmo, por outro lado, os que se escondem do debate, usando como argumento um suposto “interesse nacional'' – que, na verdade, trata-se de “interesse pessoal'' (aliás, somos craques em criar discursos que justificam a transformação de interesses de um pequeno grupo em questão de interesse público). Se questionados, correm para trás da trincheira fácil do patriotismo.

Que, afinal de contas, como disse uma vez o escritor inglês Samuel Johnson, “é o último refúgio de um canalha''.

Texto original: BLOG DO SAKAMOTO

domingo, 29 de junho de 2014

Não vai ter copa!

O que mais se ouvia nos últimos dois anos era esse mote eleitoral! Mas sempre ouvia essa frase dos programas televisivos (que tem lado político) e dos políticos da oposição. Só que agora estamos no ano da copa, em pleno desenrolar do campeonato mundial e mostrando que o que toda grande imprensa falava era propaganda e não informação!

Só que vi muito professor usando o ter “não vai ter copa” alegando que o mais interessante seria utilizar o dinheiro para melhorar a educação, saúde e segurança. Muitas das vezes questionei que eles não deveriam entrar no embalo da imprensa por estarmos em pleno ano eleitoral e estavam usando a copa e os desejos dos professores para utilizarem a copa como mote de campanha eleitoral contra o governo. Não precisa dizer que fui chamado de petista, de está recebendo CC, esta recebendo por fora e outras argumentações que não deveriam partir dos professores.


Pois bem, acham que o dinheiro gasto na copa deveria ser gasto na educação, saúde e segurança, que também concordo! Mas se não é um processo eleitoreiro, alguém pode me dizer quanto se gasta, do dinheiro público, com carnavais (prévia carnavalescas, o próprio carnaval e carnavais fora de época), festas juninas e réveillons todos os anos? Quantos programas jornalísticos, de diversão e até novelas se via tamanho ímpeto em favor da educação em anos não eleitoreiros? Quantos professores protestaram a grande quantidade de dinheiro utilizado anualmente nestas festas? Na realidade se gasta uma copa por anos na realização destas festas!

O que mais impressiona é ver professores, advogados, jornalistas e profissionais universitários fazendo o mote dos órgãos de impressa! Só que a impressa deveria informar e não emitir opinião, afinal de contas a imprensa tem lado políticos e são as empresas que mais ganham com dinheiro público utilizados nessas festas com grande volume de pessoas. A Rede Globo é uma das empresas que mais está ganhando com a realização da Copa do Mundo no Brasil. Alias, a Rede Globo ganha muito dinheiro não somente com a copa, mas com a transmissão do Carnaval, Campeonato Brasileiro e das diversas festas juninas nas diversas cidades e ainda não vi esses órgãos de impressa, professores, advogados e demais profissionais fazendo campanha não vai ter carnaval e não vai ter festas juninas!

A manipulação mediática é tão grande que a Revista Veja previa que os Estádios para copa só ficariam pronto em 2038!!!

Textos relacionados:

Você sabe quanto custa o carnaval?
A Copa e o carnaval
O ressentimento de Faustão com a Copa do Brasil

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
http://carlos-geografia.blogspot.com.br

Texto original : O ESPINHOSO

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Professor processado por tomar celular de aluno ganha causa na justiça


Professor Odilon Oliveira
O professor de ciências Odilon Oliveira Neto, 43 anos, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Amintas Leopoldino Ramos, localizada na Vila de Samambaia, em Tobias Barreto (SE), comemorou a decisão do Juiz Elieser Siqueira de Souza Junior, da 1ª Vara Cível e Criminal do município, que julgou improcedente a acusação de um aluno contra o docente.

Odilon foi processado pelo estudante Thiago Anderson Souza, representado por sua mãe Silenilma Eunide Reis, por dano moral após tomar o celular do aluno em sala de aula. Segundo a defesa do estudante, ele teria utilizado o celular para olhar as horas e, ao ter o celular tomado, passou por "sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional".

domingo, 18 de maio de 2014

SOLTANDO OS NEGROS E LIBERTANDO OS ANIMAIS

É muito comum assistirmos nos diversos programas, principalmente de televisão, sobre ecologia, vermos animais serem libertos para manutenção da espécie. Em alguns desses programas passam os procedimentos e critérios para se soltarem esses animais em seu ambiente natural.

A grande maioria desses animais são apreendidos entre pessoas que: criam os animais sem os devidos tratos (as vezes sem autorização dos órgãos competentes), vendedores inescrupulosos e até mesmo entre traficantes internacionais. Grande parte desses animais, quando da apreensão, estão em estado de saúde debilitados devidos aos maus tratos.

domingo, 11 de maio de 2014

A morte da imaginação

Especialistas em informática previram que, num futuro não muito distante, chips serão implantados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas.


Jacques Gruman

Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias. Deve ser um conluio com os dentistas. (Nora Tausz Rónai)

Reza uma antiga lenda que dois reinos estavam em guerra. Os perdedores acabaram condenados ao confinamento do outro lado dos espelhos, um primitivo mundo virtual em que eram obrigados a reproduzir tudo o que os vencedores faziam. A luta dos derrotados passava a ser como escapar daquela prisão. O genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa para criar, na década de 1940, O mundo do espelho, para mim uma das mais aterrorizantes histórias do Mandrake. Espelhos foram, aliás, protagonistas de algumas sequências cinematográficas assustadoras. Bóris Karloff, um clássico do gênero, aproveitou muito bem o medo, que desde crianças carregamos, de que nossos reflexos nos espelhos ganhem autonomia. Ui! Já imaginaram se isso virasse realidade? Teríamos que conviver com nossos opostos, um estranhamento no mínimo desconfortável. Os quadrinhos exploraram o assunto também na série do Mundo bizarro, do Super-Homem. Era um nonsense pouco habitual no universo previsível dos super-heróis.

Estava pensando nos estranhamentos do mundo moderno quando me deparei com uma pequena nota de jornal. Encenava-se a ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Municipal do Rio. Suponho que a plateia, que pagou caro, estava mergulhada na história e na interpretação da orquestra e dos solistas. Não é que um cidadão saca seu iPad e passa um tempão checando os e-mails, dedinhos nervosos para cima e para baixo, com a tela iluminando a penumbra indispensável para a fruição plena do espetáculo? Como esse tipo de desrespeito está entrando na “normalidade”, apenas uma pessoa esboçou reação. Uma espécie de angústia semelhante à incontinência urinária se espalha como praga nas relações pessoais e no uso dos espaços público e privado. Tudo passou a ser urgente. Todos os torpedos, e-mails e chamadas no celular viraram prioridade, casos de vida ou morte. Interrompem-se conversas para olhar telinhas e telonas, desrespeitando interlocutores. Como este tipo de patologia tende a se diversificar, já há gente que conversa (?) e olha o computador ao mesmo tempo, como aqueles lagartos esquisitos cujos olhos se movimentam sem aparente coordenação. Outros participam de reuniões sem desligar sua tralha eletrônica (na verdade, não estão nas reuniões). Especialistas em informática previram que, num futuro não muito distante, chips serão implantados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas. A vida é controlada à distância e por outros.

Outro estranhamento vem da inundação de imagens, aflição que chamo de galeria dos sem imaginação. Enxurradas de fotos invadem o espaço virtual, a enorme maioria delas sem o menor significado e perfeitamente descartáveis. O Instagram recebe 60 milhões de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por segundo! Fico pensando no sorriso irônico ou, quem sabe, no horror em estado bruto, que Cartier-Bresson esboçaria se esbarrasse nisso. Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados, jamais empilharia a coleção de sorrisos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics.

Essa história dos sorrisos foi muito bem notada pela Nora Rónai, que citei logo no início. Vivemos a era das aparências. Com a multiplicação das imagens, vem a obrigação de “estar bem”. Afinal de contas, quem vai querer se exibir no Facebook ou nas trocas de mensagens com uma ponta de melancolia ou, pelo menos, um suspiro de realidade? O mundinho virtual exige estado de êxtase permanente. Uma persona que não passa de ilusão. Criatividade não quer dizer tristeza, claro, mas certamente precisa incorporá-la como tijolo construtor da nossa personalidade. O resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e escritor, fez o seguinte comentário sobre seu amigo Gabriel Garcia Márquez, que acabara de morrer: “Tudo o que ele escreveu é revelador da infinita capacidade de poesia contida na vida humana. O eixo, porém, foi sempre o mesmo, ao redor do qual giramos todos: a solidão e a esperança perene de encontrar antídotos contra essa condenação”. Nada que essas maquininhas onipresentes possam registrar, elas que jamais entenderiam a fina ironia de Fernando Pessoa no Poema em linha reta, que começa assim: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. Mais adiante: “Arre, estou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse mundo ?”.

A praga narcísica desembarcou nas camas. Leio que nova moda é fazer selfies depois do sexo. O casal transa, mas isso não basta. É urgente compartilhar! Tira-se uma foto da aparência de ambos, coloca-se no Instagram e ... pronto. O mundo inteiro será testemunha de um momento íntimo, talvez o mais íntimo de todos. Meu estranhamento vai ao paroxismo. É a esse mundo que pertenço? Antigamente, era costume dizer que o que não aparecia na televisão não existia. Atualizando a frase: pelo visto, o que não está na rede não existe. É a universalização do movimento apenas muscular, sem sentido, leviano, rapidamente perecível.

Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gelman passou um bom tempo sem conseguir escrever. A inspiração não vinha. Disse ele: “A poesia é uma senhora que nos visita ou não. Convocá-la é uma impertinência inútil. Durante uns bons quatro anos, o choque do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. Quando, finalmente, a senhora chega, tudo muda, como narra o poeta: “A visita é como uma obsessão. Uma espécie de ruído junto ao ouvido. Escrevo para entender o que está acontecendo”. Não consigo imaginar uma serenidade como essa no mundo virtual. Tudo nasce e morre antes de ser completamente absorvido. Cada novidade passa a ser vital, filas se formam nas madrugadas nas portas de lojas que começam a vender modelos mais avançados de produtos eletrônicos. Não dá pra esperar um dia, muito menos uma hora. O silêncio e a introspecção são guerrilheiros no habitat plugado. Estou me alistando neste exército de Brancaleone.

Texto originalmente publicado: CARTA MAIOR

Texto replicado : CARLOS GEOGRAFIA

sábado, 3 de maio de 2014

Por que me exonerei de meu cargo efetivo de Professor da Educação Básica II do Estado de São Paulo depois de somente 3 semanas.


Graduei-me em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), cerca de 700km longe de minha casa. Não posso mentir dizendo que passei dificuldades financeiras para tal até porque, apesar de não haver luxo, nunca me faltou nada: alimento, xerox, material, livros, e até mesmo lazer. Mas não podemos negar que foi um investimento pessoal.

No sétimo semestre do curso decidi que queria ser professor. Também não posso mentir dizendo que não sabia onde estava pisando, pois sabia que é uma profissão desprestigiada financeiramente, e em alguns casos até mesmo moralmente. Mas segui e sigo com este desejo.

Após me licenciar, fiquei por anos sem exercer a docência: passei pelo administrativo de uma escola particular, pelo trabalho temporário do IBGE, por bico como instrutor do idioma esperanto, até chegar a servidor técnico-administrativo de nível médio da rede federal de ensino, na qual fiquei por 03 anos. Quando servidor federal, pude fazer duas pós-graduações em nível de especialização além de um curso de aperfeiçoamento, e hoje sou segundoanista do curso de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Sou um "buscante" do conhecimento, mas nada me valia não aplicá-los um pouco que fosse, pois vivia encarcerado numa burocracia administrativa que particularmente me desumanizava. Também, portanto, não venha com a máxima embolorada do "quem sabe, faz; quem não sabe, ensina". Porque, modéstia a parte, sei alguma coisa!

Esclareço dizendo que não foi o concurso do Estado de São Paulo (no qual passei em 7º lugar, enferrujadíssimo, diante de uma amplíssima concorrência) o definidor para me exonerar de meu emprego federal, mas sim um outro concurso em uma prefeitura de minha região (no qual fiquei em 1º lugar), que paga muito "menos pior". Comparem:

Prefeitura - R$1590,00 por 10 aulas de efetivo exercício em classe;

Estado - R$677,00 por 09 aulas de efetivo exercício em classe.

Sim, no estado mais rico do Brasil e o mais caro para se viver! Contudo, como fui bem sucedido nos dois concursos e o acúmulo dos dois é legal, resolvi abraçar o estado e pegar uma escola estadual para a qual pudesse me locomover a pé, me garantindo qualidade de vida. E é aí que minha desilusão começou, a partir dos exames admissionais: são tantos exames, e praticamente impossível fazê-los todos pelo SUS e/ou convênio (isso quando o pobre do professor tem um), que o gasto chega a ser exorbitante, e eu particularmente senti-me um candidato à NAASA! Já depois de começar a exercer a docência, torna-se impossível estar nas duas redes e não fazer comparações de todos os tipos (e olha que a prefeitura está longe de ser perfeita), estas não só salariais mas de estrutura, de ambiente, e de condições de trabalho em geral. Pensei "tudo bem, vou fazer pelos estudantes", mas as próprias condições objetivas tornam tudo impossível para qualquer trabalho satisfatório, o que me fez ficar frustrado e sentir-me impotente diante da barbárie:

- Há uma verdadeira sopa de letrinhas que dividem e até mesmo rivalizam os professores da rede estadual paulista. A regra do Governo é "dividir para reinar". E me assustei com a falta de consciência de classe e até mesmo de união entre muitos professores. Mas também, professores eventuais, categorias O, categorias F e efetivos dividem a mesma sala dos professores, atuam na mesma situação bárbara, e recebem tratamento diferenciado. E sim, apesar de eu ter sido efetivo, toda essa precarização me atingia, e como sociedade ainda me atinge;

- Não há livros para todos os estudantes ou, quando há, a distribuição é falha. Cabe aqui a hashtag #comofaz;

- A aprovação automática (que é bem diferente do conceito de progressão continuada) é um verdadeiro crime não só por ridicularizar o trabalho do professor, mas também por boicotar o processo de ensino-aprendizagem dos próprios alunos;

- Na escola onde eu estava lotado, por exemplo, não há sequer um mapa mundi. O giz nem sempre se faz escrever sobre a lousa. A apostila é péssima, o livro um pouco melhor. Como ensinar Geografia assim, com a concorrência dos diversos eletrônicos que os estudantes consomem e tentam utilizar escondidos de nós professores? Eu finjo que ensino, eles fingem que aprendem? Não precisam responder esta! Vejam, não quero alunos com tablets e toda uma parafernalha (aliás, soy contra!), mas que exista pelo menos o mínimo;

- As perspectivas de carreira são horríveis, em todos os sentidos. Os incentivos para pós stricto sensu são, na maioria das vezes, para quem dá aula exclusivamente no estado: alguém consegue viver bem assim? Quase todos os abordados por mim diziam que estavam lá para terem "mais uma aposentadoria", mas mesmo assim questionavam-se se estava valendo a pena. Outros eram professores novos, como eu, que estavam lá por se tratar da primeira oportunidade;

- A carga horária das disciplinas não possuem qualquer lógica, e no Ensino Médio as ciências humanas pagam o pato de ter bem menos aula que o necessário. Alguém me ensina como fazer um trabalho satisfatório - nas condições acima, para piorar - dando só uma aulinha semanal para um terceiro ano do Ensino Médio, cuja maioria está ávida para entrar numa universidade?;

- Antes de assumir o cargo, passei na escola para mostrar meu horário da outra rede, para fins de acúmulo legal, para que já pudessem arrumar (já no início do ano) meu horário para segundas e sextas-feiras. Conseguiram distribuir, apesar disso, 9 aulinhas em 4 dias da semana em horários bem diferentes, chocando não só aulas das duas redes, mas também aulas na própria escola (!!!). Mais uma vez prejudicado pelo sistema;

- Ficamos reféns dos estudantes e não há qualquer suporte. Estaria mentindo se disser que cheguei a ser refém de violência, mas sim, afrontas são frequentes e não existe nem a opção de deixar quem não está a fim de assistir aula para fora e dar aulas para quem está interessado. Somos obrigados a reter todos em sala de aula como se fosse creche, e contraditoriamente não há como reprovar. O negócio é empurrar com a barriga. Mas ai se não cumprir com todas as tarefas burocráticas... Aluno fugiu correndo da sala de aula? Culpa do professor! Lá vem o inspetor capitão do mato... Não, ambiente nada saudável para se trabalhar;

- Falando em burocracia, hora de entregar as notas. "Mas eu acabei de chegar, não pude aplicar nada, e ninguém antes de mim aplicou nada também!". "Ah, faça qualquer coisa, peça um trabalhinho". "Mas houve feriado neste mês, meu horário está desorganizado, dou poucas aulas, e não sei o nome de ninguém.". "Ah, mas tem que entregar as notas, professor!". "Mas que notas?! Avaliar como, que aprendizado, se comecei agora e nada do programa foi ensinado?". "Ah professor, são os prazos". "Ah, deixa pra lá...". Essa é a droga da educação estadual em uma escola considerada "filé", "modelo", etc, mesmo havendo todos os tipos de dificuldades (até mesmo para ENTRAR na escola, dada a falta de funcionários em suficiência), e... bombas;

- Dar aula no período noturno, em muitos locais, é uma aventura. Diversos perigos no trajeto casa-escola, escola-casa, ou - para muitos - uma escola para outra. Tive o desprazer de ter a única aula do período noturno (antes sendo a primeira de segunda-feira, próxima à última vespertina, a qual também ministrava) isolada para a última de quarta-feira "porque não tinha como deixar como estava" (sendo que era a única aula que não dava problemas pra mim, seria um castigo disfarçado?), quando faço outro curso superior e já havia trancado uma disciplina da universidade na segunda-feira. Imaginem que delícia ter de perder mais a disciplina da universidade de quarta (o dia inteiro) só para me deslocar à escola e dar uma única aulinha... Imaginem como estava 'feliz'. Mas não posso reclamar, né? Afinal "não é acúmulo legal, você não trabalha em outro órgão público durante o período noturno"... "Muitos professores que dão aula em Bertioga gostariam de estar aqui no seu lugar...". Ah tá, legal, mas minha própria condição de universitário me possibilita bolsas com melhor relação custo x benefício, bem menos dor de cabeça, e ainda ganho linha no tal currículo Lattes.

Assim meu ideal de promover educação para os filhos da classe trabalhadora foi para o saco no caso da rede estadual paulista. Não estou para brincar ou para fingir. Não sou professor "tia maricota" ou "leitor de apostila". Prefiro ficar na rede municipal na qual estou, quem sabe complementar a carga para ganhar mais e ter menos dor de cabeça. Ou então pensar em algum tipo de bolsa na UNIFESP, já que também sou estudante de graduação lá. Ou quem sabe algumas aulas em algum cursinho popular ou até mesmo escola particular caso fique necessitado de dinheiro... Só sei que o estado de São Paulo só vale a pena no caso de ser a última opção para quem está com a corda no pescoço, por isso o entra e sai de professores é tão grande, até por parte dos efetivos concursados como foi meu caso, várias matérias jornalísticas mostram isto. Simplesmente não vale a pena, e sei que não fui o único. Desejo sorte e dou toda a solidariedade aos camaradas que ficam lutando na trincheira, tirando leite de pedra, alguns em escolas melhores que a minha, outros em bem piores... Mas todos sofrendo com o salário achatado, os horários esdrúxulos, a desvalorização, o assédio moral como regra, os acertos desfeitos, o conflito professor x aluno que a cada dia se acirra mais, dado os estudantes que são educados exclusivamente pela TV, a parte imbecil da internet, e o Whatsapp.

Deste "maior concurso do magistério do estado de São Paulo" já foram chamados alguns professores, e está sendo chamada a segunda leva. Alguns, como eu, já se exoneraram. Outros, vão aguentar por não terem outra opção. E o exército de professores eventuais, contratados em caráter precário, e contratados estáveis, continuará existindo de maneira massiva mesmo depois de rodar toda a lista do concurso, para o mal da educação pública. E para o bem estrito do demotucanato paulista (a quem não interessa educar ninguém de fato, nem mesmo de maneira utilitária, menos ainda emancipatória), de alguns burocratas asseclas, da Veja (que fala que professor é vagabundo, doutrinador, e se a educação vai mal a culpa é dele), e de certo rol de "pedabobas" que nunca pegaram um giz na mão mas têm ataques de diarreia pedagógica por meio do mundo mágico de teóricos dos quais nunca leram um livro inteiro. Para mim, deu. Toda a solidariedade a quem me substituir, mas estou fora... Tenho outras cartas na manga, e nunca fiz qualquer concurso público só pelo "sonho da estabilidade".

Enquanto isto, quem não pode, vai aguentando as bombas, os desacatos, as imoralidades, o sindicato pelego, o esforço indo em vão, os estudantes colocando-os contra a parede e, estes docentes, sendo genis de vários tipos de gente e da cara de pau do governador e seus parceiros no horário eleitoral falando de números esdrúxulos... E aí, por fim, a equipe da direção tentando apagar vários incêndios ao mesmo tempo... GREVE? A própria APEOESP (sindicato) barra após acordo de cúpula, junto com colegas pelegos, e até mesmo a própria Polícia Militar.

Vou me embora, assim sendo, e não é para Pasárgada não. Em três semanas desenvolvi sintomas que só fui conhecer depois de mais de três anos de serviço federal! Enquanto uma revolução não acontece, sigo com meu esboço de projeto de vida. Estado de São Paulo, volto só se mudar MUITO a conjuntura. O que parece ser impossível, face o reacionarismo padrão dos paulistas (OBS.: antes de me xingar, sou paulista também!). Então sigo do meu jeito... Infelizmente para mim, infelizmente para os alunos com brilho nos olhos, infelizmente para a educação como um todo.

Texto replicado deste endereço:
http://www.felipequeiroz.net/news/por-que-me-exonerei-de-meu-cargo-efetivo-de-professor-da-educa%C3%A7%C3%A3o-basica-ii-do-estado-de-s%C3%A3o-paulo-depois-de-somente-3-semanas-/

FELIPEQUERIZ.NET

sábado, 26 de abril de 2014

Reflexos da ditadura na educação impedem país de avançar

Em audiência na Câmara, especialistas pontuaram as heranças do período autoritário que impactam na má qualidade do ensino público e no acesso à educação.

Najla Passos

Brasília - Os reflexos da ditadura civil militar sobre a educação foram tão nocivos e profundos que até hoje, 30 anos após o início da redemocratização, impedem o país de alavancar a qualidade e democratizar o acesso a este que deveria ser um direito fundamental de todo brasileiro. Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara, nesta quinta (24), especialistas foram unânimes em apontar as heranças do regime como principais responsáveis pela má qualidade da educação pública e pela vergonhosa falta de acesso a ela para os pelo menos 14 milhões de analfabetos, além de número maior ainda de analfabetos funcionais.

Presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti lembrou que a ditadura pôs fim ao ambiente de otimismo pedagógico dos educadores brasileiros com o avanço da educação popular e emancipatória já nos primeiros dias após o golpe. Em 14 de abril de 1964, um dia antes do general Castelo Branco assumir o posto de ditador, foi extinto o Programa Nacional de Alfabetização, que vinha sendo implantado no país pelo educador Paulo Freire e seria inaugurado oficialmente em maio. Segundo ele, não foi nenhum rompante do regime. A decisão já havia sido tomada um ano antes, quando Castelo Branco ouvira Paulo Freire em um evento no interior paulista. “Vocês estão engordando cobras”, teria diagnosticado o futuro ditador.

Na sequência, vieram as reformas educacionais que arrasaram com o modelo de educação brasileira. O presidente do Instituto narrou que, em 10 de junho de 64, na primeira reunião com secretários de educação, Castelo disse textualmente: o objetivo do meu governo é estabelecer a ordem entre trabalhadores, estudantes e militar. E seu ministro Suplicy completou: estudante deve estudar, professor deve ensinar, e não fazer política. “Aí está o programa da ditadura: uma visão autoritária da educação e uma visão tecnicista que ainda permanece, suavizada, sem a ostentação e arrogância daquele período”, avaliou.

Gardotti ressaltou também a introdução do caráter mercantilista da educação, trazido dos Estados Unidos, que a transforma em negócio, ao invés de direito. “Havia uma lógica de privatizar”, denuncia. Ele criticou a reforma universitária, que promoveu a “departamentalização”, apontada como estratégia para fragmentar o conhecimento. E também a forma autoritária como eram impostos os diretores, selecionados não pelo desempenho acadêmico, mas pelo perfil gerencial. “A reforma universitária visava reformar para desmobilizar”, resumiu.

Sobraram críticas também à reforma do ensino básico, feita de modo a impedir o crescimento intelectual dos alunos. “A reforma da educação básica tem coisas hilárias, como dizer que todo mundo tem que se profissionalizar porque Jesus Cristo foi carpinteiro”, exemplificou. Segundo ele, em uma época que até o Banco Mundial preconizava que os trabalhadores tinham que ter uma formação generalista, a ditadura obrigou todas as escolas de ensino médio a introduzir a formação técnica compulsório, sem nenhum preparo para isso, e o resultado foi um fracasso.

Outro fracasso registrado foi o do Mobral, criado para alfabetizar jovens e adultos e extinto no governo Sarney. Em quase 20 anos, o programa, que prometia acabar com o analfabetismo em 10, conseguir reduzir a taxa apenas de 33% para 25%. “O Mobral alfabetizou muito pouco. E era muito mais fácil do que hoje, porque esses 8% residual que temos agora está no campo e em locais de difícil acesso”, analisou.

No inventário dos prejuízos causados pela ditadura à educação brasileira, ele incluiu também o desmantelamento dos vários movimentos sociais e populares, a eliminação da representação estudantil e a perda da capacidade dos educadores de influir nos rumos da educação. Para ele, é preciso mudar a concepção da educação. “Nós temos que formar professores a partir de uma outra ótica, de uma outra concepção de educação que respeite o saber das pessoas, que introduza o diálogo, o respeito, e vença aquilo que é o mais duro do que foi herdado da ditadura: a falta de democracia”, diagnosticou.

Como exemplo, ele citou o quanto ainda é difícil implantar um conselho de escola ou mesmo difícil discutir política na escola, o que considera salutar para o país.

“Estamos formando gerações sem discutir que país queremos”, afirmou. Gardotti lembrou que Paulo Freire já dizia que educar é politizar sim. “Não podemos formar estudantes na velha teoria do capital humano: estude, trabalhe e ganhe dinheiro. Paulo Freire respondeu claramente a esta teoria na época: a educação que não é emancipadora faz com que o oprimido queira se transformar em opressor”, concluiu.

O sociólogo e colunista da Carta Maior, Emir Sader, lembrou que o arrocho salarial foi tão importante para a sustentação da ditadura quanto a repressão sistemática, o que acabou comprometendo a qualidade dos serviços públicos, inclusive a educação. “O santo do chamado “milagre econômico” foi o arrocho salarial”, afirmou. Segundo ele, até então, a escola pública era um espaço de convivência entre a classe pobre e a classe média, um espaço de socialização. “A classe média, a partir daquele momento, passou a se bandear para escola particular, fazendo um esforço enorme, colocando no orçamento os gastos de escola e deixando a escola pública como um fenômeno social de pobre”, observou.

O sociólogo avalia que a ruptura causada foi tão significativa que a escola pública, até hoje, não recuperou seu vigor. “A democratização não significou a democratização do sistema educacional, não significou a recuperação da educação pública, da saúde pública. Isso está sendo feita a duras penas na última década, mas com uma herança acumulada brutal. Já tem reflexos no ensino universitário, mas não em toda a educação: a escola pública nós perdemos”, ressaltou.

Para ele, os investimentos em educação superior são importantes, mas é a reconquista da qualidade da educação primária e média que deve ser tema fundamental e urgente à democracia brasileira. “Estamos muito atrasados. Até a saúde pública, apesar do viés duríssimo da perda da CPMF, nós conseguimos melhorar agora com o programa Mais Médicos. Mas a educação, não. A estrutura de poder herdada da ditadura só se consolidou, inclusive a da educação privada”, observou Sader, lembrando que os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso aprofundaram ainda mais o processo de privatização deflagrado pelos militares.

Sadir Dal Rosso, professor da Universidade de Brasília (UnB), uma das mais afetadas pelo golpe civil militar, submetida a três intervenções, abordou o impacto da ditadura na universidade e na construção do pensamento brasileiro. Segundo ele, o controle das administrações universitárias, a demissão e expurgos de professores que não concordavam com o regime, os assassinatos de estudantes, o controle das organizações estudantis e a implantação de serviços de informação no meio acadêmico causaram prejuízos imensuráveis ao país, que ainda precisam ser investigados e punidos. “É necessário esclarecer a verdade e, neste sentido, é necessário rever a Lei da Anistia”, defendeu.

Texto originalmente publicado: CARTA MAIOR