sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A miserável terra dos doutores

O Brasil é o país dos doutores.

Em cada esquina há uma placa indicando algum.

O médico é doutor.

O dentista é doutor.

O veterinário é doutor.

O advogado é doutor.

O engenheiro é doutor.

O dono da fábrica de parafusos é doutor.

O fazendeiro é doutor.

O delegado de polícia é doutor.

O juiz é doutor.

O promotor público é doutor.

O sujeito bem vestido, de
terno, só pode ser doutor.

O interessante é que, com tantos doutores, a burrice cresce exponencialmente no país e a ignorância se agarra, como craca, às consciências.

Graças à redes sociais na internet ficou fácil perceber esse fenômeno.

Doutores os mais diversos são flagrados nelas a todo instante distribuindo coices na lógica, na história, na gramática e na ética.

É como se eles fizessem questão de mostrar ao mundo inteiro como são desprovidos de qualquer lampejo cognitivo.

Fazem isso sem nenhum pejo, pois afinal são doutores.

No dia a dia usam e abusam desse título, muitas vezes obtido numa dessas uniesquinas da vida que afrontam a ideia de que a educação é um processo relevante para o ser humano superar a barbárie.

Ai de quem, num desses consultórios médicos ou odontológicos que vivem superlotados, não chamar o especialista em viroses ou o expert em extrações de doutor.

O mesmo se dá com o rábula que bombou "n" vezes no exame da OAB ou com o tira que comprou o diploma para ostentar um anelão cafona no anular.

Eles, por serem doutores, se julgam acima de todos os outros, os cidadãos comuns, os ordinários.

Como tais, assim titulados, se permitem certas liberalidades, como, por exemplo, fraudar o Imposto de Renda.

São doutores nessa matéria - e em tantas outras que prezam a esperteza, o jeitinho, o toma lá dá cá, o "sabe com quem você está falando?"
O fato é que, com tantos doutores a habitá-lo, o Brasil deveria ser a nação mais desenvolvida do universo, o pináculo do pensamento científico, o cume da moralidade, o ápice da igualdade social, o Everest da distribuição de renda.

Mas cá estamos nós, encolhidos numa mediocridade que se apequena a cada dia, que nos arrasta de volta a um passado tenebroso e maldito.

Esse passado que nos legou tantos doutores - tantas mentes desprovidas de uma ínfima centelha de racionalidade e caráter.
Texto original: CRÔNICAS DO MOTA

Um comentário:

  1. Concordo. Apenas uma correção no penúltimo parágrafo: "encolhidos numa mediocridade que NOS apequena a cada dia". Se muito embora que seria muito bom mediocridade se apequenar até sumir de vez.

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